Sempre fala-se mal da polícia carioca, diz-se que são corruptos e piores que a bandidagem já instituída no Rio. Esse tipo de declaração já tornou-se clichê. Não gosto de generalizar em nada, pois em todos os setores há profissionais corruptos que fazem vergonha para a classe. Porém, pude comprovar nessa semana que a coisa é mais naturalizada do que imaginava.
Saí do centro da cidade para ir a uma empresa em Ramos, próximo ao famigerado Complexo do Alemão; nunca havia estado naquele local, então o motorista da empresa me levou; ele, obviamente no volante, e eu no banco do carona, com óculos escuros.
Sequer o motorista sabia a localização exata da bendita rua; porém, nossos tempos trouxeram a tecnologia do Google Maps! Sinceramente, não sei como as pessoas conseguiam se virar há dez anos atrás sem essa facilidade tecnológica.
Mesmo assim, um motorista enrolado, um carona mal-humorado, e um pedaço de mapa impresso num papel, são capazes de coisas absurdas; como chegamos próximo ao local, mas sem sucesso de chegar, encostamos próximo a uma loja de tintas para pedir informações. O motorista saiu, eu permaneci, mas pela janela vejo o motorista enrolado confirmando com a cabeça que estava entendendo, e perguntando a mesma coisa dez vezes seguidas. A pessoa informou que ele deveria seguir a primeira rua a esquerda que chegaríamos ao local. Pois bem, este era um cruzamento movimentado.
O nosso amigo estabanado, ligou a seta e se mandou para a esquerda, quando um policial militar o mandou encostar. E eu pensei... “Só me faltava essa”.... o nosso querido policial, já permanece num lugar estratégico. Não esta no cruzamento observando o trânsito, mas escondido na saída da esquerda. O motorista abre o vidro ao meu lado e o policial se aproxima.
“Amigo, você não viu que é proibido virar a esquerda ali?”
“Ah seu guarda, mas me informaram que eu poderia, é porque não conheço muito bem...”
“Tem uma placa gigantesca ali, indicando que você deveria ter contornado o quarteirão para entrar nessa rua, você não viu? A placa é enorme!”
(Permaneci em silêncio, pois já estava mal-humorado, ainda com os óculos escuros, olhei para o policial de cima abaixo, já sabendo o que viria pela frente. Sem dizer nada, e sério, virei meu olhar para a frente como se ele não existisse. O motorista lerdinho, também entendeu bem o recado e saiu do carro para conversar com o policial)
“Deixa eu te explicar, eu preciso levar o rapaz aqui na rua tal... mas não sei como chegar, já entramos em várias ruas erradas, pedi informação ali na esquina e me disseram que eu poderia virar aqui...”
“Você esta sabendo que isso é passível de multa né... são Cento e Oitenta Reais... vou ter que te dar uma canetada...”
“Mas não tem outra forma.... um jeito de quebrar o galho?....”
“Uma onça.”
“Poxa amigo, eu só to com vinte aqui...”
“Ta beleza, ta beleza...”
O motorista, por sua vez, entrou no carro, abriu a carteira e tirou a única nota que tinha, uma de vinte, e já estava saindo do carro para entregar o dinheiro para o guarda, quando aquele meteu a cabeça pela minha janela....
“Não sai não... não precisa sair não... assina aqui a multa...”
Estendeu o bloco exatamente na minha frente, e eu olhando fixamente para a frente de óculos escuros não acreditando naquela cena. E repetiu:
“Assina aqui a multa.... “ (Levantando o bloco de anotações de multa para que o motorista colocasse a nota. Depois disse:)
“Valeu amigo, olha, pra chegar nessa rua é fácil, você segue aqui a direita, depois você pega a rua até o final, na praça, e então vira a primeira a esquerda, é a rua que você tá procurando ta?!”
Uma simpatia assustadora, uma cena constrangedora, um talento perdido. Aquele PM poderia trabalhar em novelas como ator. Depois que o motorista deu partida, comentou comigo.
“É melhor perder vinte do que cento e oitenta né...”
E eu:
“É... “ em surpresa profunda.





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