sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O tempo passa



O tempo passa,


Vejo-o da sacada, em minha rua vazia,


onde somente o tempo passa,


Somente eu e ele





Tão impetuoso que deixa marcas em minha pele


Tão triste que deixa o sal na minha face


Tão fugaz que me deixa sem chão





Enquanto passa sorri pra mim,


como se pudesse conter aquele sorriso


Tempo, por que me castigas


Não me diga mais quantos anos tem





Tortura os meus dias que nem sei mais quantas horas possuem


Você levou aqueles que muito amei e não permite que retornem


Você prende meu desejo com correntes invisíveis





Mas seu peso é tamanho que mal posso caminhar


Levou minha juventude antes que pudesse florescer


Diga-me, por que passa por aqui?


Vá para longe, afasta-se





Quero sentir a vida correndo em minhas veias,


Mas ainda assim, sei que estará misturado em seus fluidos


Você é o culpado da minha fraqueza, da minha paciência


O maior causador da minha tranquilidade e de minha insanidade





O tempo passa, passa por minha rua


Entra em minha casa, deita-se comigo, me ensina,


me vive, me mata, me some, me esquece.





terça-feira, 18 de agosto de 2009

Primogênita

Escrevo pela necessidade que tenho de abrir minha boca, na verdade escrevo pois fui alfabetizado, se não escrevesse, certamente desenharia.
Já escrevi assiduamente há alguns anos atrás, porém, com o passar do tempo percebi que não sabia de coisa alguma, tudo o que achava saber era nada, e senti-me terrivelmente vazio, sem o desejo nem a autocredibilidade para dizer qualquer coisa, uma vez que, sob minha perspectiva, nada está coberto integralmente de conhecimento; muito menos eu, com meus poucos anos de estrada e mais zilhares de coisas para aprender.
Acabei me convencendo de que as opiniões pessoais são lanças afiadas, quiçá agulhas em palheiros, onde você mesmo pode se furar. Pura ilusão, retrato de receio, e ingrediente fundamental para aumentar a massa de manobra.
Calei-me voluntariamente por anos, recolhi-me em minha mediocridade. Quanto mais se estuda mais se percebe de que nada se sabe; porém, a ótica que faltava era a de que ninguém é detentor único do conhecimento, mas todos são livres para expor suas visões sobre quaisquer assuntos a que se disponham a observar. E é essa soma que irá determinar a qualidade dos ativos pensantes da sociedade; a união das perspectivas de forma clara e na medida do possível, isenta de paixões.
Portanto, hoje rasgo o zíper da minha boca e passo um espanador na mente, tento isentar minha perspectiva de pré-julgamentos, de pré-conceitos e de pré-determinações, tornando-me uma tábua rasa preparada para o novo sempre.
Aqui deixarei um pouco da técnica científica de lado, pois em demasia tornar-me-ia o que fui anos atrás, e procurarei aprender com meus colegas de todos os lugares, os antigos e os novos, voltando a interação rica de que o discurso e a esperança continuam vivos, quando deixamos que a mente flua; e nos permitimos abrir ao novo e ao diferente. Essa é a alma da heterografia, já que a homogenia ideológica engessa a ação.

Boa viagem a todos!